O lançamento bem sucedido do PIX, um dos principais projetos do Banco Central para 2020, ao que tudo indica, foi o pontapé inicial para uma nova era do setor financeiro brasileiro, muito mais digital. Isso porque o Bacen já possui diversos outros projetos em andamento que seguem a mesma ideia de modernização, como o open banking e a moeda digital brasileira.
Roberto Campos Neto, presidente do Bacen, afirmou, no evento online de lançamento do PIX, que “o PIX é um pilar fundamental do sistema financeiro do futuro […] e que culmina com o que chama de moeda digital […]”.
De fato, as CBDCs, como são chamadas as moedas digitais emitidas por bancos centrais, já estão sendo testadas em diversos países. O Bacen não está muito atrás. Em agosto de 2020, criou um grupo de trabalho com o objetivo de discutir a possibilidade da sua emissão no Brasil e quais seriam os seus impactos e benefícios no contexto nacional.
Mas antes de entrar especificamente na moeda digital brasileira, vamos esclarecer uma das dúvidas mais comuns: a diferença entre a CBDC e a criptomoeda. Confira abaixo!
Criptomoeda x CBDC: a diferença está na centralização
O bitcoin, a primeira moeda digital do mundo, se popularizou bastante na última década e ganhou força no mercado, incentivando a criação de outras criptomoedas de iniciativa privada, como Litecoin, Ether e XRP.
Resumidamente, as criptomoedas são moedas digitais criadas a partir de uma rede de blockchain. Elas contam com sistemas de criptografia para garantir a proteção e a validade das transações e dos dados de seus usuários.
Porém, além de serem totalmente virtuais, as criptomoedas têm uma grande diferença do dinheiro que estamos acostumados a lidar (como real, dólar, euro etc.): elas são, na maioria das vezes, descentralizadas, ou seja, não precisam de intermediários para regulação. Não são controladas por órgãos governamentais e, sim, pelos próprios usuários.
Diante do crescimento deste tipo de moeda e do processo de digitalização que os sistemas financeiros do mundo todo estão passando, os bancos centrais começaram a estudar e realizar testes para o lançamento de suas próprias moedas digitais, as chamadas CBDC (do inglês, “central bank digital currency”).
Basicamente, estas moedas digitais centralizadas são o dinheiro tradicional, mas no formato digital, e todas as suas transações serão verificadas por uma autoridade – no caso, o banco central do seu país de emissão. Porém, elas utilizam a mesma tecnologia baseada para as criptomoedas descentralizadas, o blockchain.
E quais benefícios a moeda digital traria?
Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que há diferentes tipos de CBDC que podem ser criados por bancos centrais.
- CBDC de atacado: onde a moeda digital é disponibilizada apenas para bancos comerciais e câmaras de compensação, com objetivo de facilitar pagamentos interbancários, especialmente os internacionais.
- CBDC de varejo (account-based): que configura a emissão da moeda digital para circulação entre a população em geral, atuando como uma alternativa ao dinheiro físico.
Segundo relatório da plataforma de blockchain R3, por enquanto, a maioria dos bancos centrais que estão testando a emissão de moedas digitais trabalham com a CBDC de atacado, como uma etapa de modernização do seu sistema financeiro.
Apesar disso, há conversas sobre a aplicação da CBDC de varejo e um dos principais benefícios deste modelo seria a inclusão financeira que ele poderia proporcionar, especialmente em lugares com altos índices de desbancarização.
Caso isso acontecesse, muita coisa no setor bancário poderia mudar fortemente, já que as pessoas não precisariam ter uma conta em um banco comercial para realizar transações, fazendo isso diretamente com o Bacen, com o dinheiro digital. Isso também poderia acarretar uma redução significativa dos custos com impressão de moedas e notas.
Já em relação à criação de uma CBDC de atacado, voltada para instituições financeiras, os benefícios proporcionados seriam sentidos na eficiência dos sistemas de pagamentos, com liquidações mais rápidas e seguras.
A moeda digital do Banco Central
De acordo com o Bacen, o grupo de estudos para criação da CBDC no Brasil tem o objetivo de discutir os impactos da emissão deste tipo de moeda, como os seus benefícios e riscos à sociedade, especialmente em relação à segurança, proteção de dados, além do respeito às normas e regulações.
Em entrevista à Bloomberg TV, o presidente do BC afirmou que é provável que o real digital já seja disponibilizado a partir de 2022. Porém, há uma agenda de metas a ser cumprida antes que isto se torne realidade, entre elas, o impulsionamento do real lá fora, tornando-o em uma moeda conversível.
Já ficou claro também que a CBDC brasileira seguirá a política monetária do país, sendo emitida de acordo com as taxas de juros, e que não fará concorrência com o real impresso.
O que podemos esperar nos próximos anos
Hoje, a maioria dos bancos centrais já vêm, ao menos, estudando formas de criar sua moeda digital, mas quase todos em fase inicial de desenvolvimento. Os que estão mais próximos do lançamento de um CBDC é o Banco Popular da China e o Banco Central da Suécia.
O fato é que os sistemas financeiros de todo o mundo vêm se modernizando e digitalizando com o objetivo de trazer mais praticidade, economia e segurança a empresas e cidadãos.
E as criptomoedas estão crescendo cada vez mais aos olhos dos investidores, podendo, quem sabe um dia, substituir o dinheiro no futuro. Em um ano de forte impacto econômico por causa da pandemia, como 2020, o Bitcoin avançou mais de 270%, principalmente devido a sua descentralização.
Uma forma de reduzir este risco seria a CBDC de varejo, mas isso ainda parece ser uma realidade um pouco distante. A criação de uma moeda digital de lastro público, que não requer um vínculo com as instituições financeiras privadas, poderia interferir na dinâmica atual do mercado, facilitando uma fuga dos bancos.
Por enquanto, a tendência é a disponibilização de uma CBDC de atacado para aumentar a eficiência da movimentação interbancária. E só isso representará mais um importante passo do setor em direção à transformação digital.
Aqui no Brasil, as conversas sobre o Real digital estão avançando. A previsão é que até 2023 a moeda digital centralizada brasileira já esteja disponível para toda a população. Segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a ideia é simplificar transações financeiras, especialmente as globais, já que a moeda digital oferece mais praticidade de conversão.
Saiba o que o Banco Central diz sobre CBDC brasileira ouvindo o episódio #13 do ConectaCast.